O impacto da Copa do Mundo na economia e as relações entre Brasil e Catar
O Catar como país sede
A realização da Copa do Mundo FIFA™ de 2022 consiste num dos maiores eventos do planeta. O interesse de espectadores de todo o globo em acompanhar as partidas, as festas e tudo o que envolve o mundo do futebol durante os mais de 30 dias de torneio também desperta curiosidades acerca do que acontece e como é a vida no país sede. Questões políticas, sociais, econômicas e culturais vêm à tona e se tornam importantes a nível global, não apenas como plano de fundo para a principal celebração esportiva do mundo, mas também como norteadoras dos princípios básicos que regem as possíveis relações internacionais com o pequeno país insular.
O Catar é um país islâmico, com um regime teocrático e que segue fundamentalmente os preceitos da Sharia – sistema jurídico tradicional do Islã. A ortodoxia com a qual tais regras são aplicadas tem gerado amplas discussões no que tange à violação dos direitos das mulheres, dos imigrantes e dos homossexuais, sendo que a lei catari proíbe e pune com severidade o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. Tendo isso em vista, diversas instituições e seleções nacionais, sobretudo europeias, anunciaram medidas de protesto em prol dos direitos humanos e provocaram, inclusive, a comoção de boicotar o evento em suas respectivas populações. No entanto, apesar de todas as críticas e cobranças por posicionamentos, o presidente da FIFA, Gianni Infantino, defendeu a Copa no Catar e afirmou, em discurso recente do dia 19 de Novembro, que ela será “a melhor da história”.
Os impactos econômicos
Rodeada de polêmicas, a Copa do Mundo de 2022 também efervesce o mercado internacional e tumultua os setores comerciais. Naturalmente, o consumo a nível mundial cresce e muito em tempos de Copa do Mundo. Entretanto, ao se suceder entre os dias 20 de novembro de 18 de dezembro – e não durante o meio do ano como sempre aconteceu, devido ao extremo calor do país árabe – o evento está abarcando o período de outras datas comemorativas e, portanto, com um comércio já bastante estimulado. A Black Friday que, neste ano, tem início no dia 25 de novembro, amplia as promoções de inúmeros produtos e, na conjuntura da Copa, anima os setores correlacionados, sobretudo o eletrodoméstico (aparelhos televisores para assistir as partidas), o de vestuários (camisas nacionais e acessórios temáticos) e o alimentício (bebidas alcoólicas e tira-gostos).
Os meses de dezembro e novembro ainda contam com o Natal, cujo estímulo comercial configura-se como um dos maiores do ano e aumenta significativamente o dinheiro circulante na economia. De acordo com uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), espera-se que cerca de 60 milhões de pessoas façam compras no comércio e no setor de serviços em prol da Copa do Mundo no período natalino e da Black Friday, injetando R$ 20,3 bilhões na economia. Essas datas comemorativas ainda devem aumentar as vendas em 12%, na comparação ao primeiro semestre de 2022, segundo dados da ABV (Associação Brasileira do Varejo). É importante ressaltar também que, em contrapartida à elevação do consumo, é calculado que haja uma considerável diminuição da produção, uma vez que é costumeiro que as empresas brasileiras relaxem as obrigações profissionais em dias de jogo e diminuam a carga horária dos trabalhadores para que eles possam assistir as partidas. Assim, é estimado que o Brasil perca cerca de R$ 85 bilhões por conta dos jogos que acontecerão em dias úteis, segundo a Money Times.
Outro segmento que também é impulsionado é o setor do turismo que, aliado à aviação, intensifica as movimentações, sobretudo no país sede. De acordo com especialistas da CM Capital, ao ganhar visibilidade e atrair visitantes, os ativos do Catar e das empresas relacionadas ao ramo tendem a responder positivamente ao enorme fluxo de pessoas. Dessa forma, empresas de turismo, como a CVC, e linhas aéreas, como a Gol e a Latam, representam boas oportunidades de investimento e parceria no período. Não obstante, agrega-se a essa animação a ampla disponibilidade de emprego ofertada pela economia catari, a qual, ao abrir mais de 7 mil vagas de trabalho apenas no setor hoteleiro do país, despertou em trabalhadores do mundo inteiro o interesse em intercâmbios e outras formas de aproveitar a viagem.
O mercado financeiro é mais um setor bastante afetado pelos acontecimentos em torno da Copa do Mundo. Bolsas de todo o globo sofrem quedas ou ascensões em decorrência dos acontecimentos, principalmente dentro de campo. Segundo um estudo realizado pelo Banco Central Europeu (BCE), foi comprovado que, em dias de jogo, a atividade de negociação cai acentuadamente, especialmente se a seleção nacional for uma das competidoras. Estima-se que o número médio de negócios diminua 45% e o número de cotações ofertadas seja reduzido em cerca de 30% durante as partidas do país em questão. Nesse sentido, foi avaliado que a atividade do mercado fica significativamente abaixo da referência habitual antes mesmo da partida começar, e continua a ser menor durante os 45 minutos após a partida ter terminado. No intervalo do jogo, a atividade de negociação se recupera um pouco em comparação com o real tempo de jogo, mas permanece substancialmente menor do que nos dias de referência.
A relação Brasil-Catar
Com uma economia baseada predominantemente na exploração de petróleo e gás natural (correspondente a mais de 50% do PIB nacional, 85% das receitas de exportação e 70% das receitas do governo), o Catar experimentou um abrupto crescimento nas últimas décadas. Independente e extremamente pobre na década de 1970, o país conseguiu aproveitar a elevada demanda dos seus recursos naturais e se transformou num polo de investimento e modernização no Oriente Médio. Hoje, o país de apenas 11.571 km² de área tem o 6º maior PIB per capita e a 3ª maior reserva de gás natural do planeta. Tendo isso em vista, a relevância econômica do país sede da Copa internacionalizou-se e atraiu o interesse de parceiros de todas as partes do globo.
Na relação com o Brasil, destaca-se uma crescente cooperação bilateral que, entre os anos de 2000 e 2018, evoluiu de US $27 milhões para US $540 milhões. Em 2021, o Brasil exportou para o Catar mais de US $284 milhões e importou quase US $800 milhões. Entre os principais produtos exportados, lideram o ranking: carnes de ave e suas miudezas comestíveis (47%), motores e máquinas não elétricos (12%) e tubos e perfis ocos, acessórios para tubos, de ferro ou aço (11%). Do outro lado, os negócios mais importados do país árabe para cá pertencem à categoria de adubos ou fertilizantes químicos, que representam 88% do total. No entanto, é imperativo realçar que, apesar do déficit na balança comercial para o Brasil, nosso país ainda representa o 18º principal parceiro comercial do Catar e este, por sua vez, está na 44ª posição do nosso ranking de importações.
Em vista do exposto, é possível concluir que a pequena nação do Golfo Pérsico representa uma gama de oportunidades econômicas para futuros parceiros internacionais e, sobretudo, brasileiros. A cooperação bilateral tem seus benefícios e eficiência comprovados nos diversos acordos já firmados entre Brasil e Catar, que incluem: o aumento dos voos diários da Qatar Airways conectando os dois países – impulsionando o Turismo e o Comércio; a promoção, firmada em 2010, do intercâmbio de experiências nos campos das artes visuais, música, teatro, dança e arquivos bibliográficos – diversificando a Cultura; e a aquisição, por parte da Companhia de Energia do Catar, de parte do campo de pré-sal de sépia (21% do campo de petróleo), localizado na Bacia de Santos – aquecendo a Economia e o Setor Energético. No mais, a euforia, tanto emocional quanto financeira, trazida pela Copa do Mundo ainda sinaliza que a atual conjuntura não poderia ser a melhor para ampliar a colaboração e, consequentemente, os ganhos mútuos para brasileiros e cataris.
Por: Lucas Leite em 25/11/2022
Fontes: